Educação

Alfredo Dub reforça pedido por municipalização

Intenção é de que a prefeitura assuma a gestão para assegurar que a escola possa manter atividades

Fotos: Carlos Queiroz - DP - Diretora Fabiane Bohm fala nas restrições orçamentárias, mas não deixa de investir em novos projetos

Por Michele Ferreira
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O número de estudantes não chega a 50. Mas a importância do trabalho desenvolvido não pode ser mensurada. É uma trajetória iniciada em 1949. Hoje, com 73 anos de história, a Escola Alfredo Dub divide-se entre investir em novos projetos e temer pelo futuro. Os repasses para o pagamento da equipe já não são o suficiente. A municipalização, portanto, poderia ser um caminho. O pedido foi oficializado à prefeitura em fevereiro, mas até o momento não há posição definitiva.

A diretora da instituição Fabiane Carvalho Bohm conversa com o Diário Popular e admite: “O nosso grande receio é que um dia a escola não possa mais permanecer aberta”. E ao comentar a incompatibilidade entre o tamanho das turmas e o número de profissionais envolvidos, manifestou preocupação com as finanças. “Não importa quantos alunos estão matriculados. Ainda que tenham apenas um ou dois, em alguns dos Anos, o quadro de professores terá de estar completo para dar conta da demanda. Isso acaba se tornando inviável”, afirma. “O repasse que chega para a gente contratar esses profissionais não é o suficiente”.

Por isso, a intenção de que o Município pudesse assumir a gestão da Alfredo Dub, um ambiente dedicado ao ensino de crianças, jovens e adultos surdos. E mesmo que a legislação brasileira, hoje, assegure a educação bilíngue a esses alunos ao longo da vida - independentemente da instituição em que estejam estudando - o esforço é para que eles pudessem concluir o Ensino Fundamental por ali. Afinal, a inclusão efetiva não se restringe a um tradutor-intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) de prontidão. É preciso que os conteúdos, materiais didáticos e as atividades já sejam pensados para garantir o acesso.

Em família e com satisfação

Irmãs Fiorella e Florence ingressaram na estimulação precoce


A pequena Fiorella Cantarelli esbanja naturalidade. E é fácil de entender o porquê. Ela entrou para a história como a primeira aluna bebê do Alfredo Dub, na estimulação precoce. “Aqui é bonito. Tem pássaros, tem árvores. A gente brinca, a gente estuda”, conta, aos oito anos de idade completados na semana passada. A irmã Florence, de três anos, também se diverte. Para se ter ideia do tanto que ela gosta de estar no Dub, a diretora resume: “A Flor chora para não ir embora”, descontrai.

E ao fazer um chamamento à comunidade surda, com o mesmo tom de militância da mãe Francielle, Fiorella resume a importância de a escola permanecer de portas abertas: “Aqui é muito bom porque a gente tem comunicação fluente”.

Incertezas e dificuldade de um lado...
A escola trabalha sempre no limite financeiro, às vezes no vermelho. Não há, portanto, margem para ampliar a equipe. O quadro atual não conta com orientador educacional. Os dois monitores são voluntários, assim como uma das assistentes sociais. Na área de Psicologia também seria preciso reforços, já que o contrato da profissional é de apenas 20 horas. Mas é inviável. Para limpeza da escola são somente dois funcionários e, em um dos turnos, apenas um deles responde por toda a demanda.

“Para eu contratar, tenho que garantir o salário dessa pessoa o ano todo”, afirma Fabiane. “Então, o que eu preciso é assegurar que o meu professor vai ter o salário garantido até o final do ano”, reforça a diretora, ao explicar como lida para tentar manter o equilíbrio entre as necessidades e a vida financeira da instituição. Hoje são 35 profissionais entre professores e funcionários; oito são cedidos - sete pela prefeitura e um pelo Estado. E só com folha de pagamento serão desembolsados em torno de R$ 775 mil em 2022. O ano, inclusive, fechará com um déficit de aproximadamente R$ 60 mil.

Esmero e bons resultados de outro...
A claquete está afixada na porta: Estúdio de Libras. Do lado de dentro, o resultado de um sonho que começou a ser adubado em abril de 2018, após visita ao Instituto Nacional de Surdos, no Rio de Janeiro. Câmera, iluminação (softbox), computador e TV. Tudo adquirido através de projeto aprovado em edital da Justiça Federal do Trabalho. As primeiras produções já começaram a ser realizadas e estão disponíveis no canal da escola no YouTube. Até o momento, são apenas conteúdos institucionais, mas em breve materiais curriculares também devem estar disponíveis.

“O nosso aluno é muito visual. Então, o estúdio nos permite proporcionar maior inclusão pedagógica com explicações, por exemplo, que possam ser acessadas a qualquer tempo, como de equações em uma aula de Matemática”, afirma a diretora. As produções, assim como as orientações para montagem do estúdio contam com apoio da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Atualmente, três bolsistas do curso de Cinema atuam em gravação, edição e colocação de legendas para garantir o acesso dos materiais também a outros públicos da família. “É o Dub para o mundo”.

Correria, sempre, para melhorar
Na luta pela redução de custos, a instituição já conseguiu viabilizar a instalação de 28 placas solares, através de emenda encaminhada pelo então vereador Sidnei Fagundes (PT). Agora, basta a aprovação da CEEE Equatorial para que o sistema entre em operação. Atualmente, a escola gasta cerca de R$ 1 mil, por mês, nas contas de energia elétrica.

Escola bilíngue a caminho
O novo nome já está nas paredes e, em breve, estará em todas as documentações. De Escola de Educação Especial, a instituição passa a se chamar Escola bilíngue Alfredo Dub. A proposta é de que, já em 2023, possam ser absorvidos alunos também ouvintes; uma facilidade principalmente às famílias dos estudantes surdos, que poderiam concentrar o ensino dos filhos no mesmo local.

Confira a posição da Smed
Ao ser questionada sobre a possibilidade de municipalização, a secretária de Educação e Desporto, Adriane Silveira, limitou-se a afirmar que a proposta necessita de ampliação de discussão entre prefeitura e instituição. “Este é um tema que precisa de uma análise profunda e estudos técnicos para verificar as implicações do processo de municipalização”, destacou, via assessoria de imprensa.


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